
ESAMUR utiliza inteligência artificial para otimizar o tratamento de água em Múrcia
Na Região de Múrcia, a gestão da água deu um salto tecnológico. A Autoridade de Saneamento e Purificação da Região de Múrcia (ESAMUR) começou a incorporar sistemas de inteligência artificial (IA) nas suas estações de tratamento de águas residuais, com o objetivo de otimizar os processos, reduzir custos e aumentar a eficiência operacional. Este avanço coloca Múrcia na vanguarda do tratamento de água, melhorando tanto o desempenho da estação como a qualidade da água tratada.
Enquadramento: ESAMUR e a gestão da água em Múrcia
A ESAMUR é o organismo público responsável pelo tratamento de águas residuais na Região de Múrcia. Atualmente, a entidade opera 100 estações de tratamento de águas residuais (ETARs), servindo 99,3% da população de Múrcia.Graças a esta rede, são regenerados anualmente cerca de 121 hectómetros cúbicos (hm³) de água, dos quais quase 98% são reutilizados, uma percentagem muito superior à taxa média de reutilização em Espanha (11%) e na Europa (5%).Este compromisso com a reutilização faz de Múrcia um exemplo de economia circular da água, dando à água uma “segunda vida” antes de a devolver ao ambiente.
A história da ESAMUR é caracterizada pela procura contínua de melhorias técnicas na purificação. De facto, muitas das suas estações dispõem de tratamento terciário avançado e até quaternário, fases adicionais de purificação que permitem uma qualidade da água que excede os requisitos regulamentares atuais.Nos últimos anos, a organização participou em projetos de investigação europeus que visam implementar tecnologias de ponta para eliminar os poluentes emergentes e melhorar a sustentabilidade das estações de tratamento de águas residuais, incluindo a utilização de inteligência artificial e ferramentas de big data.Com base nesta sólida base técnica, a introdução da IA parece ser um passo natural para elevar ainda mais o padrão de purificação em Múrcia.
IA aplicada à depuração: qual o sistema utilizado?
A inteligência artificial que a ESAMUR está a implementar nas suas estações de tratamento de águas residuais não é um dispositivo único, mas sim um conjunto de aplicações de software e sistemas de controlo inteligentes integrados nas operações das estações. Isto inclui modelos preditivos que analisam dados históricos e em tempo real para antecipar falhas ou necessidades de manutenção em equipamentos críticos, evitando avarias inesperadas.Foram também implementados sistemas de monitorização automatizados que ajustam os parâmetros do processo (por exemplo, aeração, níveis de oxigénio dissolvido ou dosagem de reagentes) em tempo real, mantendo consistentemente a qualidade da água tratada dentro de intervalos ideais.
Outro ramo da IA aplicada é a criação de “sensores virtuais”: algoritmos de aprendizagem automática capazes de estimar indicadores de qualidade da água ou de desempenho das plantas que tradicionalmente exigiriam medições lentas ou dispendiosas. Utilizando estes sensores virtuais e sistemas de apoio à decisão, os técnicos da ESAMUR podem otimizar a configuração da estação de tratamento a qualquer momento.Estas ferramentas permitem uma crescente automatização das operações: muitas decisões que antes dependiam exclusivamente da experiência e do conhecimento humano são agora apoiadas por análises de dados em tempo real, reduzindo a dependência da intervenção manual e permitindo uma resposta mais rápida e precisa a qualquer mudança.
Benefícios: maior eficiência, custos mais baixos e água mais limpa
A implementação da inteligência artificial no tratamento de águas está a trazer vários benefícios concretos:
- Economia de custos e de energia: os algoritmos preditivos ajudam a otimizar a utilização de equipamentos e infraestruturas. Ao antecipar as necessidades de manutenção, evitam-se grandes danos e paragens não programadas, reduzindo os custos de reparação.Além disso, o ajuste dinâmico dos aeradores, bombas e outros sistemas ao nível exato necessário significa um menor consumo de energia, o que se traduz em faturas de eletricidade mais baixas.
- Maior eficiência operacional: a IA ajuda a fazer um melhor uso das instalações. Ao ajustar constantemente o processo, as estações de tratamento de águas residuais podem tratar mais água sem perder a qualidade do efluente, aumentando a capacidade de tratamento sem necessidade de investimentos em infraestruturas.
- Melhoria da qualidade da água tratada: Um dos impactos mais notáveis é a redução de contaminantes na água tratada. Graças à monitorização inteligente, é possível obter uma remoção mais completa de nutrientes como o azoto e o fósforo (responsáveis pela eutrofização) e dos chamados poluentes emergentes — micropartículas, microplásticos, produtos farmacêuticos, produtos de higiene pessoal e outros.As tecnologias guiadas por IA, como as testadas no Life Pristine, possibilitam a remoção de substâncias que antes eram impossíveis de remover através de métodos convencionais.Assim, o efluente final despejado nos rios ou no mar, ou utilizado para irrigação, é mais limpo e seguro para o ambiente e para a saúde humana.
Inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental
A introdução da inteligência artificial no ciclo da água faz parte de uma estratégia mais vasta de transformação digital e sustentabilidade promovida pela Região de Múrcia. A ESAMUR planeia equipar todas as suas estações de tratamento de águas residuais com sensores e controlo inteligentes.Com estas bases digitais, os sucessos dos pilotos atuais podem ser alargados a toda a rede.
Um exemplo proeminente é o projeto TRINEFLEX, um projeto europeu no qual a ESAMUR participa, focado em alcançar ETARs com consumos energéticos quase nulos. Será instalada uma central piloto na ETAR de Alcantarilla que combinará a IA com a energia solar e a codigestão de lamas para produzir biogás.A TRINEFLEX procura estações de tratamento de águas residuais mais sustentáveis, reduzindo significativamente o consumo de energia e as emissões associadas ao processo.Iniciativas como esta, combinadas com a elevadíssima taxa de reutilização de água tratada de Múrcia, ajudam a minimizar o impacto ambiental: poupam água potável, reduzem a extracção de novos recursos hídricos e protegem melhor os ecossistemas aquáticos locais.
Reações de autoridades e especialistas
Sara Rubira, Ministra da Água da Região de Múrcia, realçou que “descobrimos há algum tempo que a IA nos poderia ajudar a otimizar processos, reduzir custos e melhorar a eficiência”. O vereador acrescentou que a tecnologia permitirá satisfazer melhor as novas exigências de qualidade da água, especialmente a eliminação de nutrientes e contaminantes emergentes.
Do lado técnico, Pedro Simón, diretor técnico da ESAMUR, salientou que já utilizam algoritmos de IA nas estações de tratamento para monitorizar a qualidade da água em tempo real e prevenir incidentes antes que estes ocorram.Isto traduz-se, indicou, em operações mais fiáveis e na tranquilidade de que a água tratada cumpre as normas internacionais e pode ser reutilizada em segurança.
Em suma, a incorporação da IA está a transformar as estações de tratamento de águas residuais de Múrcia em instalações mais inteligentes, sustentáveis e seguras. Múrcia está a consolidar a sua posição como uma referência na inovação hídrica, demonstrando que cada gota de água residual pode deixar de ser um desperdício e, graças à tecnologia, tornar-se um recurso valioso aproveitado em benefício de toda a sociedade.